domingo, 26 de fevereiro de 2012

A CONTA DO PERDÃO


Desde pequena ouço dizer que temos que perdoar 70x7, confesso que entendia pouco sobre isto, não conheço muito da Bíblia, mas depois que aprendi a fazer a conta, comecei a pensar em quem sabe guardar alguns perdões para algumas pessoas especiais ou para situações que realmente fossem sérias.

Era um método fácil, poderia escrever num caderninho 490 linhas para ir anotando cada vez que eu perdoava, sem esquecer que eu devia dividir isto por pelo menos 75 anos que é mais ou menos a expectativa de vida do brasileiro. Depois pensei que deveria ponderar o uso dos meus perdões, pontuando para aqueles pessoas que também me perdoavam ou que de repente eu poderia precisar de perdão.

Não podia deixar de considerar que antes de dar a sentença final do perdão tinha que ser feita uma análise profunda se o fato realmente me ofendia, porque daí eu não gastaria alguns perdões à toa, se falo isto é porque sei que às vezes, uma situação parece ser mais dramática do que é, e depois de 3 ou 4 dias, o acontecido não passa de uma mera chateação.

Fiquei pensando como seria a situação quando alguém me pedisse perdão e eu, tendo que explicar que eu gostava muito dela, mas que como eu tinha alguns princípios lógicos sobre a conta do perdão não dava para perdoá-la, que nossa relação (amorosa, amigável, profissional, familiar) teria que acabar.

Aí a coisa começou a ficar séria! Vi que o status que a pessoa ocupava na minha vida também deveria ser um critério. Pense bem, eu não perdoar minha mãe, pai ou irmã, seria imperdoável e como eu desejava ser perdoada, porque gostaria de viver para sempre com eles, deveria guardar perdões para eles.

Me perguntei então, se eu seria capaz de viver com alguém sem perdoá-lo, não consegui chegar a uma resposta. Mas, teve um dia que assistindo a um programa de televisão, ouvi um padre dizer que perdoar não é esquecer, que perdoar é não crucificar a pessoa pelo que ela fez, é aceitar os defeitos dela e a condição humana de que todos erram. Não sei ao certo se foi bem assim que ele falou, confesso que não sei se entendi bem ou se quis me aproveitar de suas palavras para facilitar minha missão de saber perdoar.

Assim, comecei a ver que este negócio de perdão não era muito fácil, e o pior foi que o padre disse, que às vezes, precisávamos fazer uma análise se realmente tínhamos conseguido perdoar as pessoas, se apesar de não esquecer o que gerou o desconforto isto não nos impedia de prosseguir na vida.

Com isto resolvi rever minha lista de perdões, os critérios adotados por mim, quais se encaixavam nas recomendações cristãs dadas pelo homem que prega a palavra de Deus e entende mais que eu sobre isto, pelo menos na teoria e vi que isto levaria um pouco mais de tempo do que eu imaginava.

Vi que alguns dos perdões que eu tinha anotado ainda me massacravam num sentimento antigo, vi que algumas coisas que perdoei hoje se pareciam tão patéticas que na atualidade jamais entrariam na lista de perdão, vi que em alguns momentos da minha vida eu tinha usado muitos perdões, ocasiões que eu me encontrava em desarmonia comigo mesma. E foram tantas reflexões sobre isto, que não pude deixar de ver que eu não tinha aprendido nada ainda sobre a cota do perdão.
A conta do perdão

Desde pequena ouço dizer que temos que perdoar 70x7, confesso que entendia pouco sobre isto, não conheço muito da Bíblia, mas depois que aprendi a fazer a conta, comecei a pensar em quem sabe guardar alguns perdões para algumas pessoas especiais ou para situações que realmente fossem sérias.

Era um método fácil, poderia escrever num caderninho 490 linhas para ir anotando cada vez que eu perdoava, sem esquecer que eu devia dividir isto por pelo menos 75 anos que é mais ou menos a expectativa de vida do brasileiro. Depois pensei que deveria ponderar o uso dos meus perdões, pontuando para aqueles pessoas que também me perdoavam ou que de repente eu poderia precisar de perdão.

Não podia deixar de considerar que antes de dar a sentença final do perdão tinha que ser feita uma análise profunda se o fato realmente me ofendia, porque daí eu não gastaria alguns perdões atoa, se falo isto é porque sei que às vezes, uma situação parece ser mais dramática do que é, e depois de 3 ou 4 dias, o acontecido não passa de uma mera chateação.

Fiquei pensando como seria a situação quando alguém me pedisse perdão e eu, tendo que explicar que eu gostava muito dela, mas que como eu tinha alguns princípios lógicos sobre a conta do perdão não dava para perdoá-la, que nossa relação (amorosa, amigável, profissional, familiar) teria que acabar.

Aí a coisa começou a ficar séria! Vi que o status que a pessoa ocupava na minha vida também deveria ser um critério. Pense bem, eu não perdoar minha mãe, pai ou irmã, seria imperdoável e como eu desejava ser perdoada, porque gostaria de viver para sempre com eles, deveria guardar perdões para eles.

Me perguntei então, se eu seria capaz de viver com alguém sem perdoá-lo, não consegui chegar a uma resposta. Mas, teve um dia que assistindo a um programa de televisão, ouvi um padre dizer que perdoar não é esquecer, que perdoar é não crucificar a pessoa pelo que ela fez, é aceitar os defeitos dela e a condição humana de que todos erram. Não sei ao certo se foi bem assim que ele falou, confesso que não sei se entendi bem ou se quis me aproveitar de suas palavras para facilitar minha missão de saber perdoar.

Assim, comecei a ver que este negócio de perdão não era muito fácil, e o pior foi que o padre disse, que às vezes, precisávamos fazer uma análise se realmente tínhamos conseguido perdoar as pessoas, se apesar de não esquecer o que gerou o desconforto isto não nos impedia de prosseguir na vida.

Com isto resolvi rever minha lista de perdões, os critérios adotados por mim, quais se encaixavam nas recomendações cristãs dadas pelo homem que prega a palavra de Deus e entende mais que eu sobre isto, pelo menos na teoria e vi que isto levaria um pouco mais de tempo do que eu imaginava.

Vi que alguns dos perdões que eu tinha anotado ainda me massacravam num sentimento antigo, vi que algumas coisas que perdoei hoje se pareciam tão patéticas que na atualidade jamais entrariam na lista de perdão, vi que em alguns momentos da minha vida eu tinha usado muitos perdões, ocasiões que eu me encontrava em desarmonia comigo mesma. E foram tantas reflexões sobre isto, que não pude deixar de ver que eu não tinha aprendido nada ainda sobre a cota do perdão.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

MINHA BOLSA DE CRIANÇA

Outro dia, num destes almoços de família fiquei observando minha sobrinha. Ela, no vigor dos seus 2 anos, calçada nos sapatos de salto da minha irmã, segurando uma bolsa quase maior do que ela e com um moderníssimo celular, andava tropeçando pela casa e dizendo que estava falando com o pai, um papo que ninguém, além dela, entendia.

A cena parecia engraçada, e quem estava por perto curtia com boas gargalhadas, mas eu tive uma sensação de terror e saudades. Um momento entre minha vida e aquela bolsa cambaleante levada por uma criança capaz cruzar o passado e o futuro.

Pensei num futuro que parece cada dia mais próximo, não pelo tempo, mas pelas crianças estereotipadas de adultos, mas ao mesmo tempo sem responsabilidades. Cada vez mais cedo as crianças se vestem e portam como adultos, mas em compensação os adultos cada dia menos se mostram responsáveis com as obrigações da idade.

Foi um temor passageiro, porque num piscar de olhos vieram algumas lembranças saudosistas rasgando aquele pensamento. Como teria sido minha bolsa de criança, será que eu também tinha começado a andar de salto tão cedo assim, será que desfilei algumas vezes perante a família me fazendo de uma grande executiva, uma pessoa que demonstra seu sucesso pela bolsa que carrega?!

Esperei aquela cena se desdobrar com grande interesse se em algum momento aquela menininha abriria a bolsa, o que a interessaria lá dentro ou qual dos brinquedos que ela guardaria; isto poderia significar uma luz no mundo dos adultos, mas nada disto aconteceu, ela se limitou a desfilar com o objeto como se tivesse imitando a mãe e sem jamais imaginar o que representa ter uma bolsa. No fundo no fundo ela sabia que aquela não era a bolsa de suas brincadeiras.

Em mim, ficou o desejo de ter uma bolsa como a de uma criança, sem contas para pagar, sem boletos tão desejosos pelo fim, sem peso de responsabilidades, sem contracheque grevista, sem objetivos frustrados, escondidos nos bolsos. Enfim, uma bolsa pronta a embalar o sonho infantil da vida adulta, a mesma que eu, por um minuto, tive vontade de transportar e voltar para a época das fraldas, em que na bolsa só tinha brinquedos.

Não é que eu queira fugir da vida que levo, é que realmente o sonho infantil é lindo, sem atropelos, meio termo ou contratempos, é que realmente muitas vezes desejamos coisas sem saber o que têm guardado em seus bolsos, nos vendemos ao glamour das historias de fadas.

Então, depois de alguns minutos curtindo o real e o irreal da cena, levantei –me, bati uma foto da personagem futu-regressiva encenada pela minha sobrinha, dei uma risadinha como se falasse sozinha, peguei a chave do carro, a bolsa com o celular e me entreguei à vida de adulta.