Junim é meu vizinho, na verdade é Eduardo de Oliveira Junior, mas para nós que crescemos juntos basta, Junim. Hoje, não sei dizer a idade dele, deve ser algo entre 25 e 30, mas me lembro dele com uns 4 ou 5 anos, na verdade lembro-me dele e de outros vizinhos, época em que todos crianças brincávamos na rua. Passamos desta fase de brincadeira e hoje somos todos adultos, mas acho que eu esqueci de considerar que o fim das brincadeiras de criança era o fim de uma fase da vida.
Um convite de casamento me alertou para este fato, Junim cresceu e vai casar!!! Mas, isto foi só um fato descrito num papel que eu li e deixei sobre a mesa. Só aceitei esta realidade quando no dia do casamento eu tirei o carro da garagem e vi a movimentação dos vizinhos para irem ao casamento do Eduardo de Oliveira Junior, o Junim crescido!
Depois que o carro saiu totalmente da garagem pelo retrovisor vi nas calçadas os vizinhos bem vestidos, eufóricos organizando os últimos detalhes da roupa, tirando fotos, pondo os meninos no carro para não se atrasarem para o grande evento, ver o Junim dizer sim em público para a vida de adulto e pai de família. Uma calçada parecia ser mais especial, tinha muito mais pessoas e carros estacionados, era a da casa do noivo, entre várias pessoas parecia que uma brilhava mais, me pareceu ser a mãe do Eduardo Junior.
Confesso que todo aquele agito mexeu comigo, não só me dei conta que meu vizinho cresceu e estava pronto para virar um pai de família, mas também enxerguei num dos meus retrovisores o passado, onde todos corriam como verdadeiros moleques pela rua, sem pensar que um dia teríamos a responsabilidade da vida adulta. Extasiada com aquilo tudo fiquei algum tempo com o carro parado no meio da rua, olhando pelos retrovisores, vendo a movimentação e ao mesmo tempo passeando entre as lembranças. A minha vida tinha sido simples e tinha se entrelaçado na vida daquelas pessoas por muitos momentos.
Como um sonho louco comecei a imaginar todos na igreja, emocionadas com a importância de um enlace e me dei conta que apesar de só nos cumprimentarmos hoje em dia, tinha muito mais dos meus vizinhos em mim do que eu imaginava. Naquele momento, se pudesse, eu teria gritado convidando-os para brincarem de bandeirinha, como nos velhos tempos, e depois que nossos corpos estivessem cansados e o espírito sorridente pudéssemos sentar no meio fio, eu e meus vizinhos crianças, e desabafarmos os últimos 20 anos, falando dos casamentos feitos, desfeitos e sonhados, dos filhos, do emprego, das contas, das frustrações e alegrias, das perdas e ganhos, enfim do que a vida tinha nos transformado nestes últimos anos em que passamos a sermos apenas vizinhos.
O barulho do carro ligado me acordou da torpidez, perpassei os olhos de um retrovisor ao outro, enxergando ali o futuro, Eduardo Oliveira Junior naquela rua brincando com seus filhos, e a mãe dele, que tanto nos vigiou da varanda da sua casa, agora estaria adulando os netos, feliz porque o Junim cresceu. Me despedindo daquela cena, acelerei o carro, aumentei o som e passei a admitir, aquela rua era a mesma desde que eu moro nela, 27 anos, mas a vizinhança tinha mudado porque o Junim cresceu, a irmã dele, a minha irmã, a vizinha do lado esquerdo, todos cresceram e eu também cresci.
Luciane Dias
Jul/2012
Crescer é um processo pouco exato, no que tange ao envelhecimento e as responsabilidades atreladas a idade física, social e psicológica que atingimos. Momentos como esse de reflexão nos ajuda a pontuar o que realmente vale a pena e diminuir a significância das "coisas", pois são apenas isso: coisas. As pessoas não, as pessoas crescem e isso é para lá de significativo... Além de ser ótimo...
ResponderExcluirGozado como um fato isolado nos faz desacelerar por uns instantes e nos leva pelas lembranças de tempos tranquilos, sem responsabilidades e de momentos especiais. Tudo passou tão depressa, aos poucos os (nossos)gritos e o barulho da bola, foram substituídos por, as vezes formais, "Bom Dia", "Boa Tarde".
ResponderExcluirO casamento do Juninho foi realmente marcante. Embora tenhamos tido o casamento da Jaque, o nascimento do Gabriel e da Brunna, e tantas outras novidades, ver um irmão fazer as malas rumo a uma nova vida é ao mesmo tempo motivo de felicidade e angústia: estranho não tê-lo pela casa sempre, não brigar pela bagunça do quarto, não ter que acordar de madrugada pelo esquecimento da chave... Enfim, é uma nova etapa da vida. É o crescimento da família! Obrigada pelo texto, Lu. Me vi "titiquinha" tomando sopa com a Jaque na sua casa. Que saudade!!!
Sempre lembro das sopas kkkk e o Mário Bross q passávamos o dia jogando kkk quando não conseguíamos passar de fase, chamávamos o super Junim, agora, papai Junim.
ExcluirÉ, a família da 2 sul cresceu. Crescemos na maturidade e crescemos na quantidade. Daqui um tempinho seremos nós, eu, Lu, Junim, Carol, Cris, Niltinho,..., sentados no mesmo meio fio, cercados pelo nosso passado e pela nossa amizade, compartilhando a vida adulta, no momento em que "a rua volta a ser criança". Agora, os nossos filhos fazem a história.
ResponderExcluirQue lindo, Jaque!! Acho que tá na hora de promovermos um encontro de todos os vizinhos,como nos velhos tempos!!
ExcluirQue bela reflexão sobre a vida que nos constroi, dia a dia...
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