Não sou muito de comer frutas, mas de tanto minha mãe e as minhas calças jeans, que a cada dia ficam mais apertadas, me cobrarem esse hábito, tenho procurado uma vez ou outra comer um morango, uma banana ou mesmo uma uva. Hoje senti uma enorme vontade de comer uvas e achei ótimo que o desejo tenha sido exatamente numa quarta-feira, porque é o dia que tem promoção de frutas no mercado perto da minha humilde residência.
Fui toda animada para o mercado para comprar o objeto de meu desejo. Quando cheguei lá vi que tinha algumas promoções que eu não podia dispensar. Entre uma prateleira e outra, em busca dos preços bons, avistei alguns conhecidos que não tive como não cumprimentá-los com um abraço e um olá, (falar com os amigos é tão bom quanto é comer, e comer a uva eu sabia que não tinha erro, mais cedo ou mais tarde eu iria para casa com ela, sentaria no sofá para assistir TV e me deliciaria com aqueles cachinhos verdes - opto pelas verdes para manter a esperança de que essa atitude saudável ainda possa me render alguns gramas a menos na balança, e quem sabe, um centímetro sobrando nas minhas calças jeans, para que eu possa respirar com mais tranqüilidade, daí tudo ficaria perfeito).
Estando no setor das frutas avistei as mangas e, apesar de não gostar muito de manga, aquelas pareciam ótimas. Peguei em algumas até escolher uma. Nem sei bem ao certo como escolher frutas porque elas nos enganam; vejam bem, as mangas por exemplo, às vezes parecem lindas e quando você corta estão estragadas; as melancias, quando cortadas estão sem doce ou estragada, os abacaxis azedos, os melões sem gosto, as mexericas secas e por aí vai. Algumas pessoas dizem que têm algumas técnicas, mas como nunca vi um artigo científico sobre isso ou mesmo alguma recomendação do INMETRO, então acho que essas técnicas não são nem 75% garantidas. Deve ser mais uma dessas crendices populares, porque o que vale mesmo é a sorte. Até fiquei pensando sobre isso e acho que alguém deveria inventar uma máquina para fazer uma ressonância magnética frutífera, assim ninguém ficaria frustrado com as frutas compradas.
Quando cheguei em casa sentei ansiosa para desfrutar daquela maravilhosa manga e na primeira facada para descascá-la, a fruta estava pálida, sem graça, meio verde. Mas podia ser que a aparência enganasse; para saber a verdade teria que comer e na primeira mordida a constatação: frustração geral, pois também estava sem gosto.
Como eu não desisto fácil de uma comida, decidi persistir na comilança. Depois de umas poucas mordidas acabei me engasgando com um pedaço da tal manga. Entao, comecei a achar que havia um complô contra o meu desejo de vida saudável regrada a frutas: "já que a fruta não estava gostosa será que eu não podia pelo menos comê-la sem ter a sensação aterrorizante de que corria mais risco em comer um pedaço de manga do que em andar no meu velho carango a 160km/h?"
E foi entre uma tosse e outra, andando pela casa para tentar me aliviar por completo do pedaço de manga assassino que me lembrei que, na verdade, eu tinha ido ao mercado para comprar uvas. Será o quê que tinha acontecido com as uvas verdes, aquelas que eu ansiava comprar?! Junto com minha pergunta veio também a resposta para aquilo tudo; acho que foi a uva que resolveu se vingar de mim, porque eu a esqueci no mercado, porque eu fui lá para que ela deixasse de ser uma uva abandonada e passasse a ter um lar, guardada numa vasilha depois de bem lavada só esperando para ser comida. Plantei na dona uva verde a esperança e depois a abandonei. Isso de realmente não se faz, mas também não precisava ela me convencer a comer manga, que nem gosto muito, e ainda quase me matar engasgada. Assim, vou passar a acreditar que além das frutas nos enganarem tendo cara boa e gosto ruim, elas podem ser vingativas e, desse modo, nem minha mãe vai me convencer a comê-las e nem eu vou querer perder peso comendo-as. Não valerá o risco! É melhor comprar calças novas, porque elas não vão querer se vingar de mim.
Luciane Dias
09/12