Ser feio não
é fácil e o pior de tudo é que tentar ficar bonita é um trabalho árduo e caro.
Eu não sou uma pessoa horrorosa, apenas sou menos favorecida em questão de
beleza. Parece chique falando assim! Como nasci nessa condição, às vezes, é
preciso tentar melhorar o aspecto e de repente ser classificada como bonitinha.
Nessa
tentativa, de vez em quando passo alguns apuros. Outro dia, enquanto escovava o
cabelo, após fazer um alisamento capilar, a cabeleireira deu um grito – logo
pensei que o cabelo estava caindo, me veio um desespero, porque se fico careca
saio da condição de menos favorecida em beleza para pessoa assustadora e isso
pode tirar de mim a vontade que tenho de me olhar no espelho pelo menos 1 vez
por semestre, sem que ele se quebre. Mas, na verdade, era apenas um cabelo
branco, claro que foi um alívio. Idosa pode até ser porque mando pintar o
cabelo, mas sem cabelo é a “treva”.
Só de pensar
em perder os cabelos, mesmo eles não sendo meu charme, perco o sono. Imagina,
eu jogando tênis e na hora que vou sacar a peruca voa e ao invés de bater na
bolinha dou uma raquetada nas madeixas postiças, ou mesmo na hora de dar uma
cabeçada na bola, durante o joguinho entre amigos do futebol, a peruca vai
junto com a bola para o gol, isso seria mais engraçado do que qualquer piada já
contada, mas só para os outros.
Dizem que os
feios com um pouco de dinheiro conseguem sair do status de feiura para o
patamar de beleza, então mensalmente guardo um pouco do salário para os tais
produtos de beleza. Produtos esses que vão se somando, sendo cada um para uma
parte do corpo e para determinada ocasião e esse excesso de cuidados pode
causar enormes confusões.
Outro dia eu
ia a uma concessionária e para não ser confundida com o flanelinha que cuida
dos carros e ser enxotada da loja, procurei não ir aos molambos. Na hora do
banho acabei confundindo os produtos, passei o sabonete íntimo no rosto e o gel
facial nas partes íntimas, o susto foi quando a ardência do gel facial se deu
nas partes baixas. A sorte é que nenhum dos produtos tinha efeitos colaterais.
Não
bastante, dias depois, o acontecido foi pior. Quando vamos viajar procuramos
dar um “tapa na feiura” e comigo não é diferente. Um dia antes de viajar fui
depilar o buço, mas acabei puxando o papel da depilação com cera errado e quase
arranquei a pele fora. Acabei trocando os pelos por uma queimadura e durante a
viagem foi criando uma pereba e deixando claro a todos que eu tenho bigode.
Quase não consigo descansar na viagem porque a feiura me pesava no rosto.
Fazer a unha
é outra coisa que ao invés de me deixar mais bela me deixa uma fera. Não tenho
costume de arrumá-las em manicure, eu mesma dou um jeitinho, mas quando tem uma
comemoração especial prefiro ir a uma profissional. O problema é que na maioria
das vezes, meus dedos próximos as cutículas descascam, daí fico envergonhada e
agindo como jeca escondendo os dedos o tempo todo.
Parece que
todo investimento que faço em beleza consigo um grau novo de feiura, é como
remar contra a maré, você tenta mudar, mas vem a natureza das coisas e diz que
você é isso e nada mudará o que é natural.
Comecei a
pensar que talvez a solução esteja em ser consultada com um psicólogo, deve ser
um investimento mais barato, menos arriscado ao meu estado menos favorecido de
beleza e ainda posso falar com ela para que me ajude a aceitar que os feios
também se amam e são felizes.
Luciane Dias
fev/ 2014