segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

FUI TROCADA NA MATERNIDADE


Será que existe algum tipo de tecnologia que analisa o DNA da personalidade? Se houver eu gostaria de saber onde posso fazer o exame. Vendo o carro e as calças se preciso for, é preferível do que morrer sem saber de quem realmente sou filha.

É angustiante você viver com meia verdade. No meu caso, vivo com duas meia verdades quanto as minhas origens, ou talvez seja até três. Não sei se sou filha da minha mãe, se sou filha do meu pai ou se fui trocada na maternidade.

Não quero um desses exames tradicionais de DNA quanto à paternidade. Esclareço que sou a cara, “esculpida em Carrara” do meu pai, mas isso é só uma questão física. E acho que o povo afirmou tanto, que parece que cada dia pareço mais com ele fisicamente, sou quase a parte feminina do meu genitor.

Da minha mãe não herdei muito coisa. Acho que só o dedão do pé que por sinal é horrível e se pudesse teria pedido à Deus pelos menos os cabelos lisos dela, mas, acho que o xizinho dela é fraco, então não deu certo. E não me entendam mal, não é preconceito, é que os cabelos crespos me dão muito trabalho, são desobedientes e teimam em ficar de pé e desalinhados, me roubando a oportunidade de pelo menos um dia se quer estar bem penteada, ainda mais se a estação do ano for de vento.

Geneticamente não há dúvida, sou filha deles. Minha orfandade vem da personalidade. Não estou renegando pai e mãe, ao contrário, estou querendo acabar com o jogo de empurra- empurra deles, em que nenhum dos dois assume ter ofertado a mim suas características da personalidade.

Cresci ouvindo minha mãe gritar que tenho a personalidade do meu pai. Ela dizia que eu era ruim como ele, que juntava tudo que via com exceção do “papel que limpava a bunda porque fedia”. Eu ficava perdida sem entender o que tanto tinha de parecido além da cara e também sem saber o que eu tanto juntava para guardar, mas pelo menos era melhor isso do que parecer com um psicopata.

Meu pai é uma daquelas pessoas tranquilas, que não fala mal de ninguém, conversa baixo, é trabalhador e de uma maneira geral é honesto (as transgressões de trânsito roubam a honestidade de qualquer pessoa). O problema dele é a infidelidade, sempre teve várias mulheres e ainda hoje aos 68 anos é assim.

Mas, o que isso tinha a ver comigo? Eu sempre fui super fiel a minha mãe, sempre estive ao lado dela. Mesmo no dia que ela queria matar meu pai por aparecer com uma mancha de batom na camisa, só depois de muita briga ele conseguiu provar relembrando minuto a minuto o que fez no dia, que a mancha de batom era dela mesmo que encostou-se nele. Eu fiquei fiel a ela, tentando provar que o doido era meu pai. É fato para minha mãe, sou filha do pai.

Já meu pai, me crucificava porque achava que eu era a fotocópia da minha mãe. Dizia que como ela eu não era confiável. Veja bem, como uma criança é classificada pouco confiável!!!  Por isso, meu pai elegeu minha irmã como a queridinha do papai, tipo 90% para ela e 10% para mim. Como minha irmã mora em cidade diferente da minha e da dele, ele vem a minha casa só para ver minha irmã. Não pense que é ciúmes, toda a família sabe disso, é fato concreto para a cabeça dele, sou filha da mãe.

Fui criada em um lar tranquilo e com uma família feliz, mas sem saber se me pareço com a mãe ou com o pai, passei a sofrer da síndrome da personalidade adquirida, uma doença nova que acabei de inventar, nem pareço com a mãe e nem com o pai e como consequência, não consegui assimilar as minhas características individuais. Passei os 35 anos procurando as formas de pensar e agir nos meus genitores.

Isso parece um pouco dramático né?! É só um charminho! Não sofri tanto assim, o drama e o charminho deve ser a parte da personalidade resultado do empurra –empurra e da ideia de ser filha de chocadeira. Em alguns momentos era até oportuno ter dupla personalidade.

Não abro mão do exame, tem coisas que precisam ser tiradas a limpo. A ideia de ser trocada na maternidade da personalidade não é legal, preciso conhecer a genética do meu caráter, resta saber se existe o exame e se não existe se tem alguém disposta a desenvolver um.