quarta-feira, 12 de setembro de 2018

LARANJA CONCURSEIRA

       Tem coisas que acontecem perto de mim que acho que são propositais para eu escrever textos chatos que ninguém lê ou então são para provar que eu tenho algum problema grave, tipo ver coisas que ninguém mais vê, coisas de outros planetas. São coisas tão esdruxulas que chego a pensar que são criadas pela minha cabeça.
         Fazer prova de seleção por si só já é uma coisa chata e stressante. Mas quando senta ao seu lado uma pessoa que parece que ao invés de ter ido fazer prova parece que foi para comer e fazer barulho, é a treva. Parece que o intuito da pessoa é eliminar os candidatos da sala, porque o barulho de comilança é tão grande que atrapalha a todos.
          A situação toma uma crescente que a raiva passa a crescer dentro do corpo, com a certeza que se você tivesse uma arma atiraria na boca da pessoa para ela parar de comer, mas como você não pode, então tudo que faz é passar a desejar que a pessoa tenha uma dor de barriga de morrer e na próxima prova não levar nem água.
       Eu pensei que nessa prova seria diferente, as pessoas chegariam comedidas, quase sempre só com água, barrinha de cereal e 10 canetas da cor exigida para fazer a prova. Mas, ao meu lado tinha uma mulher que equilibrava na carteira água, maça, barra de cereal, chicletes, documento, balas, canetas e sei lá mais o que, não dava nem para enxergar tudo. Eu mal via espaço para ela por a prova, até pensei em pedir uma caneta emprestada para dar espaço e já que eu, despreparada, só levei 1 caneta e que na hora de assinar meu nome na porta da sala descobri que a caneta não prestava, mas, achei melhor não por em risco a organização da carteira.
       Lá pelas tantas tudo aquilo desabou e ainda tive que ajuda-la a recolher, fiz isso porque minha mãe me diz para ser uma pessoa educada, então ajudei a pegar as coisas, mas confesso que quase dei um chute em umas coisas para afastar tudo isso dela. Porque ou a pessoa faz prova ou come.
       Acho que não passei na prova, mas confesso que a culpa não foi da candidata comilona. Entregando os pontos por não saber algumas respostas entreguei a prova e fui esperar no portão minha amiga terminar prova a dela. Isto com a certeza que pelo menos no teste de autocontrole para não matar alguém que se inscreve em um concurso só para prejudicar o outro, eu passei.
       Mas, o troço mais estranho ainda estava por vir. Um candidato saiu da prova com um saquinho de plástico e umas 4 laranjas dentro. Fiquei boquiaberta. Como alguém leva laranja para uma sala de prova?! Ele não pode ter levado faca para descascar. Será que descascaria como mexerica sujando a prova toda com o sumo da laranja?! Será que era alguma técnica nova de concurseiro? Ou será uma estratégia copiado de um blog para eliminar os concorrentes durante uma prova: descasque e chupe laranjas durante a prova e tire a concentração alheia.
     E se em vez de gomos aquelas laranjas tivessem as respostas das questões? Aquele cara podia pertencer à gangue dos concursos que vendem resultados. Ainda mergulhada no bagaço desta questão, sai uma mulher com um saco de laranjas, um saco enorme, destes que vendem em caminhão de fruta. Quando vi, levei um baita susto, ela devia ser a chefe da quadrilha, eu não conseguia parar de olhar para aquela atitude estranha.
       Aquilo reforçava minha tese da gangue laranja concurseira. Fiquei logo pensando na manchete de jornal: Presa a quadrilha laranjal, acusados de traficarem respostas de concursos dentro de gomos de laranja. Cada gomo continha de 1 a 10 questões respondidas e eram vendidas a preço de banana.
       Outra mulher se aproximou do pacote de laranjas que estava no chão e mostrou algo no celular para a chefe da quadrilha. Acho que era algum tipo de comunicação oficial do fecho final da prova. Classifiquei como uma quadrilha audaciosa porque o carro da polícia estava a uns 500m do local e elas ainda estacam com algumas provas do crime no saco.
Achei um absurdo aquilo tudo, um esquema fraudulento e azedo como tamarindo bem a minha frente, roubando minha chance de fazer um mestrado. Eu devia procurar a polícia porque ali tinha a evidência de um crime, ninguém leva um saco de laranja para fazer uma prova de seleção, a não ser que tenha respostas dentro delas.
     De repente a casa caiu, a mulher tirou uma laranja furou com os dedos para descansar e começou a chupar os gomos. Aí fui eu que azedei, porque agora minha reprovação não era culpa da quadrilha laranjal, mas da minha incompetência.
Não fiquei muito convencida de que aquilo tudo era coisa da minha cabeça, porque é surreal a história de duaso pessoas serem vistas com saquinhos de laranja no dia de uma prova, mas como o elemento material do crime podia ser chupado, me convenci que tem doido para tudo nessa vida e uns piores para tentar passar em prova de seleção.




Luciane Dias



terça-feira, 29 de maio de 2018

IDADE DA LOBA



Nunca tive problemas com a minha idade, mas isso vai indo até que você faz uma idade que tem um problema, aí tudo toma uma outra dimensão.
É uma coisa estranha porque não é um problema realmente, mas parece que a idade vai mudando tanto que a gente não incorpora a coisa, tudo acontece em ritmos diferentes e a gente fica com a responsabilidade de administrar todas as sensações.
Olha bem, a gente comemora uma idade, tem cara de outra, deseja ter outra idade, os outros nos acham com cara de outra idade. A gente não quer umas coisas da idade e gosta de outras, mas queria ter isso sem ter essa idade. Ou seja, aí mora uma confusão. E confusão é problema, por isso se chama problemas da idade, mas toda idade pode ser idade sem ser problema, ter apenas uma confusão por causa da idade.
Eu mesma estou bem confusa. Tenho 38 anos e acho isso tão próximo dos 40 que já arredondei e me considero uma quarentona. Com muito orgulho, em plena forma, de espirito jovem, tanto que ainda não consegui incorporar os 40 anos, me acho tão imatura que pareço ter 18 anos, às vezes minha sobrinha de 8 anos parece mais madura que eu, mas já tenho doenças de idosos. Meus joelhos me traíram e envelheceram antes da hora.
Dona e senhora deveriam ser pronomes de tratamento para os outros, mas o povo insiste em incorporá-los a mim, mesmo que eu resista dizendo que pode chamar me de você, aí entra a coisa que o povo quer te envelhecer antes mesmo de você. E ainda tem os amigos dos meus sobrinhos me chamando de tia, isso me faz cair na real, é uma idade boa para ser tia. Agora é esperar alguém chamar de avó.
Mas, sem mimimi, estou entrando na idade da loba, só não descobri ainda porque é chamada assim. Quando procurei na internet o primeiro conceito me pareceu assustador. “é termo que se aplica a mulheres entre 40 e 50 (atualmente estendido até os 60 anos) que, muitas vezes após a dissolução de um relacionamento e com seus filhos já criados, assumem uma postura mais ativa, buscando auto-afirmação e realização no plano profissional, social e — principalmente — amoroso.”
O google que é um recurso tão moderno e vem com uma definição desta estirpe. Falar em discussão, separação, filhos criados e realização após os 40 anos. É louco!!! Assim, faz parecer que a pessoa está descontrolada. Fez aniversário e pede o divórcio, se dá conta que não sabe o que quer da vida, não tem amigos e nem vida social. É aterrorizante!!! E esse amoroso aí para fechar deve ser a descrição daquelas mulheres que se divorciam e saem pegando os carinhas com a metade da sua idade, ou seja, se torna concorrente dos filhos criados.
Nem tem problema ter elevado o idade até os 60 anos, isto é até legal porque aì demora mais para entrar no status idosa. Até porque agora idoso também tem classificações, tem os idosos que vão de 60 a 79 anos e os mais idosos que vão depois dos 80 anos, se você não sabe disso procure saber, ou deixe para lá se ainda estiver longe dessa idade, porque tudo pode mudar até lá.
Estava achando que era uma coisa mais avassaladora, tipo mulher fatal. Que entrando na idade da loba teria um feromônio que atrairia homens maravilhosos, e ainda teria aquele instinto predador, que minha auto confiança me ajudaria a correr uma maratona mesmo com os joelhos doendo, que iria automaticamente morar sozinha, é porque até hoje moro na casa da mãe, nem venci ainda a parte de sair da barra da saia da mãe e minhas amigas já estão me cobrando a festa dos 40 anos.
Vou ter que sobreviver na casa dos 40 anos por instinto porque acho que não tem nem um cursinho, mas também não estou preocupada com isso não, vou curtindo as coisas da idade com toda a felicidade. Acho que agora estou quase entendendo a expressão “quero ter a cabeça dos 40 e o corpo dos 20 anos”. Digo quase porque minha cabeça não tem uma idade exata, minha mãe por exemplo já me acusou de ser mais velha que minha avó que é 52 anos mais velha que eu, achei ofensivo, mas a gente não discute com a mãe, então deixei para lá.
Só de pensar nisso tudo me dá um calor louco, mas não admito isso em público porque alguém abusado pode dizer que isso é menopausa e isso é coisa de avó, eu nem tenho cabelos brancos ainda. Nego veemente essa situação, aqui tem que se enquadrar o instinto predador e pronto.
Dizem que cinquentões são os novos de 30 anos, mas tem um monte de reportagem com temas sobre a crise dos 30. Volta aí a confusão da idade. Outra confusão que pode acontecer é que a pessoa que tem 50 anos de idade, mas acha que tem 12 pode querer marcar consulta no pediatra ao invés de geriatra.
Melhor é parar de falar dessa confusão porque se não valho dizer que estou em crise da meia idade, vamos cada um curtir sua idade. Tem meia idade? Essa fica para a próxima!!!

Luciane Dias / 05.18


sábado, 5 de maio de 2018

LOOK BREGA E CHIQUE!!!





Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre moda, mas tem umas tendências que são tão interessantes na lógica do vestuário e do conforto que fazem com que até um bebê consigam comentar.

Eu sou super brega, não porque minhas roupas sejam fora do contexto geral, é que elas são sempre as mesmas. Seja festa infantil, passeio ao shopping, balada, saidinha para comer, ir à igreja ou ir ao banco, sempre calça, blusa e sapato. Até gostaria de revezar com o pijama e ir em alguns destes lugares com o confortável pijama, mas o povo ainda está restringindo o uso do coitado, acho que preconceito, porque tem roupa usada por aí que é bem menos indicada que a roupinha de dormir.

Minhas roupas não causam surpresa nem fofocas, é tudo bem previsível, só troca a cor. Até prefiro assim para não chamar atenção por errar muito com novas tendências que não cabem para qualquer pessoa.

Outro dia resolvi inovar e apareci na festa de 40 anos da minha amiga com um vestidinho que classifiquei como lindo de arrasar no manequim e como capa de botijão para mim. Como já tinha comprado resolvi usá-lo expondo minha figura na medina com uma nova roupagem. Sonhando em pelo menos uma vez na vida não ser brega.

Eu arrasei, chamei tanta atenção que ofusquei a aniversariante. 86,95% dos convidados da festa eram meus conhecidos e quando eu chegava na mesa o povo nem me cumprimentava, fazia era gritar “olha ela”. Foi muito brega.

Quase tive que voltar em casa para vestir a velha calça jeans. Passei o resto da festa sentada para a fofoca não generalizar entre os que não me conheciam e ficarem me apontando pelos cantos. Olha que meu vestido nem era daqueles vestido-mosqueteiro.

Vestido mosqueteiro é aquele que não foi inventado por uma estilista de moda, mas sim por uma mãe que sabe fazer pequenas costuras. Depois de brigas homéricas entre pai e mãe pelo vestido curto da filha, a mãe resolve costurar um pedaço de tecido fino e meio transparente na barra do vestido com intuito de tampar um pouco as penas de fora.

Nasce aí uma tendência. Para os abonados de dinheiro, emendas sutis das mais caras rendas, para os menos favorecidos emendas do mais nobre tule. Para os estilistas, oportunidade de ganhar dinheiro com a ideia de uma mãe acostumada a resolver problemas familiares; para as marias vai com as outras, oportunidade de andar como as celebridades e para os críticos de moda um vestido mosqueteiro.

Até a velha e boa calça jeans sofrem essas tendências criativas da moda. Tiveram grande influência da música. Os sertanejos adotaram as super apertadas. Só sabiam cantar e não sabiam dançar, então sendo a calça apertada mal podiam mexer as penas, ficaria valorizado apenas a voz.

Os peões montadores de cavalo tentaram as calças apertadas e vendo que não conseguiam nem sentar nos cavalos começaram a fazer uns pequenos rasgos em lugares estratégicos para dar mobilidade e isso nos ajudou a entender porque os sertanejos, mesmo cantando e tocando o violão, só se apresentavam em pé.

Veio o povo do rap que não gosta de nada apertando que falam da coisa da liberdade e compraram calças 6 números maiores, colocaram uns cintos para segurarem as calças e lançaram as calças folgadonas e sobrando 20cm de barra enrolada no pé. Particularmente acho que a moda da cala folgada foi inspirada do circo e nas calças dos palhaços, mas aboliram os suspensórios para não serem chamados de palhaços.

O funk não podia ficar de fora de estilizar seu velho jeans. Rasgou nos joelhos parecendo que o indivíduo rezou tanto de joelho que desgastou a calça só nesse lugar. As mulheres cortaram as pernas das calças e fizeram shorts curtos desfiados. Desconfio que qualquer dia vão lançar o short tule mosqueteiro.

Se eu fosse criativa de repente criaria um modelito jeans que se tornasse a uma estilista renomada, mas como não entendo de moda e ser brega ainda não é a tendência natural, fico no anonimato e cada um no seu estilo de ser.


sábado, 14 de abril de 2018

VOCÊ É MASTER ?!!!


Tem expressões que marcam nossa vida e outras marcam nossa história.
Sempre usei expressões do tipo: top, mega blaster, ultra e outras para expressar coisas muito intensas e boas. Tenho muitas mega, ultra power amigas, mas outro dia me surpreendi com uma expressão que uma delas usou para me elogiar.

Em um grupo virtual postei uma mensagem de parabéns. Me esforcei para ser uma felicitação mega inspiradora, que deixasse a aniversariante super emocionada e que fosse ultra carinhosa.

Dai uma amiga do grupo me manda uma mensagem em resposta a minha empolgadíssima mensagem: “Pegou pesado com as amigas menos poéticas.” Pensei logo que tinha arrebentado, com esse mega elogio. Mas 2 segundos depois eu fui da euforia ao desespero, pois na linha abaixo do comentário estava escrito: “Você é máster, obrigada por me lembrar o aniversário da Telma.”

Pum! Em um primeiro momento aquilo caiu como uma bomba. A gente falando de aniversário e de esquecimentos da idade e ela solta a palavra máster. Só vinha na minha cabeça os campeonatos máster, ou seja, de pessoas mais idosas. Me vi idosa tentando escrever algumas palavras de parabéns aos amigos e a memória falhando com as palavras, ou mesmo sem eu conseguir enxergar as letrinhas do celular, ou caminhar até a casa da amiga, dirigir então pior ainda. O campeonato não seria mais lembrar o dia do aniversário mas conseguir de alguma forma parabenizar a amiga, isso se conseguisse lembrar quem ainda é amigo, onde mora, como se chama.

Eram 6 horas da manhã, confesso que achei ter sido um delírio, reli tudo novamente com mais atenção e menos apego a idade. Caí na realidade e com toda minha capacidade inteligível de português que pode ser usada nesse horário compreendi o quão grande era o elogio da minha amiga, uma coisa colossal.

A mente da gente as vezes nos trai, ainda mais quando em plena madrugada se força todo o fodástico poder dos neurônios tico e teco para escrever mensagem de aniversário de uma amiga que está fazendo 50 anos e já pensando que com 40 anos estou muito mais acabada que a amiga que comemora meio século. Meio século abala até quem está por perto.

Compreendido todo o contexto levantei a cabeça, pulei da cama e segui para o dia de trabalho, claro que sem esquecer daquela dose do creme Renew contra rugas.O vigor é dos 20 anos capaz de jogar o campeonato junior, mas a cara e a memória já não mais os mesmos.


terça-feira, 8 de março de 2016

TAPA OLHO AÉREO




Tem coisas que a gente jamais imagina que vai acontecer, são tão surreais que fazem jus ao dito “é coisa de novela”. TAPA OLHO para dormir entra nessa condição, só ouvi dizer que existe. É coisa que só se usa em novela, normalmente nas de época e também em  cinema. Nunca vi ninguém usando. Tudo bem que não dormi com muita gente, mas nem de ouvir falar conheço alguém que usa esse adereço.

A televisão por vezes usou personagens ricos que fazem uso desse objeto que para mim deve ser listado na categoria de íntimo. Se a gente não dorme com qualquer um imagina dormir com alguém usando aquela imitação de olhos de besouro, se durante um relâmpago a pessoa senta na cama com o tapa olho quem está do outro lado infarta de medo. Sem dizer que é um objeto pouco sexy, já pensou depois de uma noite de amor daquelas de arrepiar os cabelos e quando acorda de madrugada para fazer um carinho no rosto da pessoa e se depara com um tapa olho com o desenho de um cachorro de raça?!

Como eu falava apenas em televisão vi alguém usando esse tapa zói. Não sei se é realmente coisa de rico, mas deve ser, porque pobre dorme em qualquer situação: duas pessoas em cama de solteiro, dorme no chão, com a luz da rua passando pelas frestas das tábuas do barraco, com as crianças no berço chorando, jamais gastaria o dinheiro para comprar o tal estimulador do sono.

Nunca nem vi um desses para vender,  alguém aí já viu, sabe quanto custa, sabe em que seção da loja encontra , sabe descrever a sensação de usar ?! Será que tem algum com chip que toca música, com wi-fi, transmissão de imagens estimulantes ao sono em 3D?! Tem que ter alguma inovação para estimular alguém a usar isso ainda hoje em dia porque mesmo em novelas isso era coisa do passado, da época de império. Acho que vou comprar um para mim só para testar, só tenho medo de ser confundia com uma pirata duplicado, ou será que parece mais com um “x man”, pelo menos terei história para fazer o texto parte dois contando a sensação e o mico.

Mas, o que realmente vem ao caso com relação ao  tapa olho é que em um vôo que fiz outro dia, tive a grata surpresa de sentar-me ao lado de uma moça que aparentava um certo chiqué, com  um certo garbo desfilava uma bolsa de marca, dessas que custa dois a três meses de salário de um reles professor,  e um óculos estilo aviador.

Após o avião levantar vôo a moça garbosa abriu a bolsa e tirou uma tapa olho. Entrei em transe, sabe aquele momento que você não pode olhar, mas não consegue tirar os olhos, deixando bem notório que a atitude do outro revela uma cena incomum?! Se ela fosse minha amiga teria listado isso no texto sobre as esquisitices dos amigos.

A coisa ficou mais estranha quando reparei que o tapa olho ou ajudante de dormir  preguiço era de bichinho, todo mimoso. Não tenho dúvidas que minha sobrinha de 06 anos iria achar lindo para brincar com suas bonecas e que ficaria enlouquecida de perguntas e gargalhadas se estivesse no vôo comigo presenciando a cena e eu tentando controlar a menina, ela nunca viu um tapa olho, acho que nem mesmo o do pirata que é em um olho só.  

A moça não se intimidou pelo meu olhar e muito menos pelo outro rapaz que estava sentando ao meu lado no avião, charmosamente como se estivesse repousando em um dos spas mais chiques do planeta ela se enroscou no espaço apertado das poltronas, não estávamos em voo de primeira classe, deu um tímido espreguiçar e se entregou a uma aparente soneca.

Se a moça tinha algum glamour ele caiu por terra quando além do tapa zói de bichinhos a moça dormia de boca aberta. Até o rapaz que sentava ao nosso lado ficou meio embasbacado com a cena, dava para perceber que de tempo em tempo ele dava uma olhadinha de rabo de olho para a mulher e cada vez ficava mais catatônico com a cena, acho que ele estava mais encucado que eu, comecei a achar que a qualquer momento ele tiraria uma self com a “bela adormecida” pirata ao fundo para postar nas redes socais.

Passei a temer que o próximo passo fosse ela começar a roncar ou a babar, aí sim seria a treva. Se isso acontece será que ela teria na bolsa famosa um kit de dormir com babador, escova dental portátil para escovação a seco, pantufas, travesseiro inflável, um verdadeiro kit rápido de viagem, isso poderia justificar a bolsa ser chique né!!!

     Quando o avião aterrissou ela tirou o “tapa zói” para guardá-lo na bolsa eu não consegui tirar os olhos da bolsa, na expectativa de tentar enxergar lá dentro e vê se tinha possibilidades de ter o kit de viagem, não vi nada, mas no fim de tudo ela tirou um chiclete, passou as mãos no cabelo penteando-o como é normal depois de acordar e se preparou para descer com aquele glamour que só uma deusa pirata pode ter. 

Luciane Dias
fev/2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

ESQUISITICE TOTAL: VIAGEM COM OS AMIGOS


       Viajar com amigos é uma prova de amor como o casamento é para os amantes. Dormir e acordar com alguém é um estágio de sobrevivência de qualquer relação.  Oportuniza conhecer as pessoas não pelos seus defeitos ou qualidades, mas por suas esquisitices. Quem não tem esquesitices?! Tenho certeza que você que está lendo este texto está pensando nas suas. Aconselho que pegue uma resma de papel para anotar porque se você for honesto para admitir todas, a lista será enorme.

Tolerar as esquisitices dos outros é admitir que a relação supera muitos obstáculos e que já está em bom nível de amor. Se quiser por uma amizade a prova convide um amigo para viajar e se tudo correr bem faça o certificado de ISO amigável e não esqueça de pedir a Deus para ser aprovado também.

Por outro lado se você quiser se livrar de um colega convide-o para uma viagem e poderá pirraçá-lo sem que ele perceba que é proposital. Independente da situação amorosa ou de vingança dormir e acordar junto pode nos dar a sensação de dormir com o inimigo.

Se você nunca presenciou uma pessoa que fala dormindo, então em uma dessas viagens você pode desfrutar de uma das formas de diálogo mais irritante. Acordar madrugada a dentro com a pessoa ao seu lado resmungando palavras desconexas pode te fazer saltar da cama em desespero, mas se é seu amigo você tenta acordá-lo para de repente livrá-lo de um pesadelo, mas se é aquela pessoa que você quer acabar com a amizade daí você puxa um papo para ver se arranca algum segredo cabeludo.

Pior do que falar dormindo é a esquisitice do ronco. Para quem ronca nada como uma boa noite de sono, já para o colega que tenta dormir do lado é como vivenciar uma noite de fogos de artificio na virada do ano novo, com a simples diferença que em uma você acha bonito e sorri para comemorar, na outra você chora e tem vontade de matar quem está na cama ao lado.

E ainda tem tipos diferentes tipos de ronco, uns parecem um fusca tentando subir um morro, com a diferença que não tem cheiro de combustível, outros uma turbina de avião em plena decolagem. Para quem tem sono leve chega uma hora que a vontade de pegar o travesseiro e acabar com o ronco na força bruta e por consequência com a amizade.

Ir ao banheiro é outro problema, na verdade um tabu. Defecar é um dos maiores constrangimentos. Para amenizar a vergonha disso cada um tem uma estratégia. Uma amiga leva uma caixa de fósforo para o banheiro, ela jura que é uma boa estratégia para esconder os odores. Eu acho tétrico porque além do odor das fezes ainda tem o do fósforo, que diga de passagem também não é agradável. Tem uma outra, que só usa o banheiro social do hotel, melhor um estranho a sentir os odores do que os amigos, nesse caso acho que é uma grande prova de amor.

Em uma viagem vi uma grande amizade de infância quase ser levada pelas ondas do mar. Tomei banho com a bucha e o sabonete da amiga. Quando ela entrou no banheiro e descobriu isso, desatou a brigar e dizer que o sabonete que estava no banheiro era só para o rosto e eu não podia ter lavado o corpo todo e que a bucha era só dela. Falei que comprava outros itens, mas não foi o suficiente, ela ficou tão nervosa que se eu tivesse falado mal dela com a outra amiga que tinha viajando com a gente ela teria encarado com mais naturalidade, não perdi a amiga, mas o meu ISO de qualidade amigável foi para o beleléu.

Tudo se torna mais agravado quando ficam muitas pessoas em um único quarto. Tenho uma amiga que diz que para preservar a amizade só fica em quarto duplo, ano passado viajamos juntas, éramos seis pessoas, mas ela não quis que ficássemos em dois quartos triplos, reservou três quartos duplos e salvou cinco amizades. Acho que ela já fez a análise das suas esquisitices e achou tantas que procura salvar os amigos de uma somatória grande delas.

Teve uma vez que a briga foi pela cama. Três pessoas e duas camas, uma de casal e uma de solteiro. Em consenso decidimos que a melhor forma era resolver democraticamente, tiramos zerinho ou um, para saber quem iria dormir na cama sozinha. Acontece que uma das que perdeu para dormir na cama de casal com a outra colega teve a humildade de pedir para trocar porque ela tinha problemas de gases  e normalmente a noite soltava muitas flatulências. Fiquei a pensar como o corpo dela sabia que era noite, para só soltar gases a noite, mas por via das dúvidas, implorei a minha amiga que iria dormir sozinha para trocar de cama, afinal eu iria ser a maior prejudicada.

Essa é a prova de amor que se espera dos amigos: honestidade, generosidade, lealdade, humildade, bom senso e coragem, porque quando se ama um amigo a gente aceita se expor a tantas outras esquisitices. Parece ainda que terminada a viagem e vencido as esquisitices procurando fazer de cada uma uma grande malhação do amigo a amizade fortalece. É esse tipo de atitude que faz uma amizade durar até que a morte separe.

 Luciane Dias /02.16
















segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

FUI TROCADA NA MATERNIDADE


Será que existe algum tipo de tecnologia que analisa o DNA da personalidade? Se houver eu gostaria de saber onde posso fazer o exame. Vendo o carro e as calças se preciso for, é preferível do que morrer sem saber de quem realmente sou filha.

É angustiante você viver com meia verdade. No meu caso, vivo com duas meia verdades quanto as minhas origens, ou talvez seja até três. Não sei se sou filha da minha mãe, se sou filha do meu pai ou se fui trocada na maternidade.

Não quero um desses exames tradicionais de DNA quanto à paternidade. Esclareço que sou a cara, “esculpida em Carrara” do meu pai, mas isso é só uma questão física. E acho que o povo afirmou tanto, que parece que cada dia pareço mais com ele fisicamente, sou quase a parte feminina do meu genitor.

Da minha mãe não herdei muito coisa. Acho que só o dedão do pé que por sinal é horrível e se pudesse teria pedido à Deus pelos menos os cabelos lisos dela, mas, acho que o xizinho dela é fraco, então não deu certo. E não me entendam mal, não é preconceito, é que os cabelos crespos me dão muito trabalho, são desobedientes e teimam em ficar de pé e desalinhados, me roubando a oportunidade de pelo menos um dia se quer estar bem penteada, ainda mais se a estação do ano for de vento.

Geneticamente não há dúvida, sou filha deles. Minha orfandade vem da personalidade. Não estou renegando pai e mãe, ao contrário, estou querendo acabar com o jogo de empurra- empurra deles, em que nenhum dos dois assume ter ofertado a mim suas características da personalidade.

Cresci ouvindo minha mãe gritar que tenho a personalidade do meu pai. Ela dizia que eu era ruim como ele, que juntava tudo que via com exceção do “papel que limpava a bunda porque fedia”. Eu ficava perdida sem entender o que tanto tinha de parecido além da cara e também sem saber o que eu tanto juntava para guardar, mas pelo menos era melhor isso do que parecer com um psicopata.

Meu pai é uma daquelas pessoas tranquilas, que não fala mal de ninguém, conversa baixo, é trabalhador e de uma maneira geral é honesto (as transgressões de trânsito roubam a honestidade de qualquer pessoa). O problema dele é a infidelidade, sempre teve várias mulheres e ainda hoje aos 68 anos é assim.

Mas, o que isso tinha a ver comigo? Eu sempre fui super fiel a minha mãe, sempre estive ao lado dela. Mesmo no dia que ela queria matar meu pai por aparecer com uma mancha de batom na camisa, só depois de muita briga ele conseguiu provar relembrando minuto a minuto o que fez no dia, que a mancha de batom era dela mesmo que encostou-se nele. Eu fiquei fiel a ela, tentando provar que o doido era meu pai. É fato para minha mãe, sou filha do pai.

Já meu pai, me crucificava porque achava que eu era a fotocópia da minha mãe. Dizia que como ela eu não era confiável. Veja bem, como uma criança é classificada pouco confiável!!!  Por isso, meu pai elegeu minha irmã como a queridinha do papai, tipo 90% para ela e 10% para mim. Como minha irmã mora em cidade diferente da minha e da dele, ele vem a minha casa só para ver minha irmã. Não pense que é ciúmes, toda a família sabe disso, é fato concreto para a cabeça dele, sou filha da mãe.

Fui criada em um lar tranquilo e com uma família feliz, mas sem saber se me pareço com a mãe ou com o pai, passei a sofrer da síndrome da personalidade adquirida, uma doença nova que acabei de inventar, nem pareço com a mãe e nem com o pai e como consequência, não consegui assimilar as minhas características individuais. Passei os 35 anos procurando as formas de pensar e agir nos meus genitores.

Isso parece um pouco dramático né?! É só um charminho! Não sofri tanto assim, o drama e o charminho deve ser a parte da personalidade resultado do empurra –empurra e da ideia de ser filha de chocadeira. Em alguns momentos era até oportuno ter dupla personalidade.

Não abro mão do exame, tem coisas que precisam ser tiradas a limpo. A ideia de ser trocada na maternidade da personalidade não é legal, preciso conhecer a genética do meu caráter, resta saber se existe o exame e se não existe se tem alguém disposta a desenvolver um.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

EM QUANTO TEMPO VENCE SEU ANTITRANSPIRANTE?

Vi a propaganda de um antitranspirante que protege as axilas por 72 horas. Fiquei tão estarrecida que me senti como o ET quando assistiu à  televisão pela primeira vez. Como pode um produto proteger alguém contra odores por tanto tempo? Será que ele realmente tem essa eficiência toda? A propaganda não ressaltava nenhuma outra característica do produto, apenas frisava às 72 horas de proteção.

Um produto desses deveria ter a venda proibida e a marca multada com um valor exorbitante por incentivar maus hábitos e o Estado devia mandar fazer uma campanha de consciência; Ministério da Saúde adverte: Produtos com mais de 24 horas de proteção fazem mal aos relacionamentos e as demais convivências sociais.

Apesar de pairar a dúvida se o produto realmente é eficaz,  a questão maior está em quem compra o produto. Se eu namorasse um cara por mais cheiroso que ele fosse e eu encontrasse um produto com proteção por quatro  dias em suas coisas, não conseguiria segurar o receio e faria um interrogatório para ele quanto aos bons hábitos. Que tipo de intenção tem uma pessoa que compra uma coisa que o livra da limpeza diária?

A pessoa deve ir ao mercado e ficar procurando todas as coisas com o máximo de proteção para assim se livrar do banho. Shampoo com proteção contra sujeira e fortalecimento de fios cheirosos, talco contra chulé com proteção de 48 horas, pasta de dente com proteção total por 12 horas, sabonete antibacteriano (tem que ser desse para tirar a sujeira acumulada). Se for um gênio a pessoa deve ter a ideia de criar uma roupa autolimpante para combinar com o contexto.

Pessoas assim devem ser tratadas por psiquiatra e psicólogo porque o laudo médico deve constar que tem pânico de banho. Essa pessoa é um risco para a sociedade, pode sair matando as pessoas e facilmente ser enquadrada ainda nas qualificadoras;
III -... asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

O antitranspirante pode proteger, mas, se ele não toma banho as outras partes do corpo ficam mal cheirosas e o indivíduo acaba expondo quem convive com ele a mau cheiro, causando tortura e asfixia. Tem situações que colocam o próximo sobre crueldade; dormir com uma pessoa que acumula odores ao invés de cheiros; estar ao lado dele no ônibus lotado onde não tem para onde se mexer.  É pânico ficar conversando com alguém que está a setenta horas sem escovar os dentes. É uma verdadeira traição a pessoa usar desses meios ardilosos para conviver com os outros.

E não duvide, tem pessoas que ficam esse tempo todo testando a eficiência do produto, basta você procurar na internet e vai ver um monte de pessoas reclamando que o antitranspirante não protege durante o tempo prometido. Fábricas dizendo que o produto tem que ser reaplicado por diversas vezes durante o período prometido de eficiência.

É só fazer as contas, suor, perfume, sais minerais e água corporal sendo somados a todo tempo por quatro dias, o resultado químico disso na certa é cheiro de gambá. Impossível essa química produzir um homem lindo e cheiroso como aquele que a propaganda do antitranspirante apresenta no comercial. Aquilo é conto de fadas!

Pelo menos se a empresa fosse multada ou a ANVISA tirasse o produto do mercado, talvez a empresa mudasse o foco, ao invés de antitranspirante resolvesse vender ou alugar o homem gato do comercial por 72 horas. Tenho certeza que assim a empresa lucraria mais, gastaria menos com comercial e não correria o risco de tantas reclamações por ineficiência, livrando assim a sociedade da proliferação dos maus hábitos pela indústria de cosméticos.



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

APELIDO AMOROSO


Os apelidos amorosos devem ser tão antigos quanto Eva e Adão. Adão deve ter usado esse artificio para convencer Eva a comer a maça. Deve ter chamado-a de maçãzinha do coração ou algo como maçãzinha adocicada. Acho até que foi isso que levou a serpente a incitá-los a comer a maça e assim, caírem no pecado e ter umas briguinhas entre eles para pelo menos nesses momentos se chamassem pelo próprio nome, isso porque tem apelido que é quase como um infarto fulminante.

Outro dia enquanto estava na fila ouvi o papo de um casal e foi a coisa mais broxante que já chegou aos meus ouvidos, nem sutiã com calcinha cor da pele no dia de ir a motel ganhava. O casal se tratava por paizinho e mãezinha. Meu São Sinfrôneo, o que era aquilo?! Fiquei imaginando eles na intimidade do lar nas diversas situações, do amor à guerra.

Imagine o homem falando para a mulher – Mãezinha senta aqui no meu colinho que hoje paizinho quer fazer você revirar o “zói”. Ou depois de uma briga onde não estão se falando a mãe fica o tempo todo gritando os filhos para dar o recado para o marido, - Filho avisa para “paizinho” que a comida está pronta e que hoje ele vai dormir no sofá de novo. É muito brega isso, e coitado de quem tem que ouvir esse apelido o dia todo.

Será que a pessoa não pode criar algo menos original, talvez duplicando a sílabas do nome! Olha como fica mais bonitinho os famosos Lulu, Fafá, Titi, Lalá, Queque. Claro que isso também tem seu risco e assim, o Antônio pode virar nome de cachorro, “Totó” e Conrado ou Marcos pode virar “Cocô”. Mas, com um pouco de cuidado pode dar certo. Tem também os diminuitivos que demonstram muito carinho: Fatinha, Selminha, Pedrinho. Minha amiga Clézia chama o marido de “Nego” olha que coisa mais meiga.

Não tem nada de anormal em ter apelidos carinhosos, mas tem uns que são mais que bullyng, chega a ser quase uma agressão auricular social. Ser obrigado a conviver com alguém chamando o outro o tempo todo de “Fia” é quase a morte. E ainda tem o agravante da entonação da palavra, algo como “Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiia”. Um ser humano que chama o outro assim, não tem amor pelo parceiro, porque quem ama cuida e isso não é cuidar, é agredir a quem ama e a todos que estão próximos. “Fia, não é um apelido carinhoso nem aqui e nem na China.”

Outro apelido que pode ser enquadrado nos homicidas auriculares são os de bichos. Uma pessoa que chama o outro de gatinho não tem muita credibilidade, tudo bem que gatinho é carinhoso e bonitinho, mas quero ver você chamar alguém assim quando se está com raiva.  Um casal de colegas o marido chama a dócil amada de “Dona Onça”. Muito respeitoso o emprego do “dona”, pelo menos esse pode ser falado com carinho e na hora da raiva faz jus ao que é, não tem pieguice, não tem diferentes entonações que parecem cantiga, é simples, “Dona onça” para todos os momentos;

Tem aqueles apelidos que além de não serem muito bonitos transmitem ou a insegurança do casal com todo o sentimento de posse ou a ânsia de mostrar para a sociedade o status de casados. “Meu bem” se enquadra em uma dessas situações.

A pessoa chama o marido usando esse apelido como se fosse amoroso, mas olha a posse transmitida pelo pronome “meu”. Eu já peguei e agora é meu,  todinho meu esse homem que o padre falou que está unido a mim para sempre. Ouvindo uma conversa a distância deve parecer uma briga de casal prestes a separar os bens adquiridos no casório: meu bem... meu bem...meu bem, cada um escolhendo o que quer ficar após a separação. O apelido parece mais trágico que a separação.

Chamar de “Bem” já é um tanto quanto mal, imagina de “meu bem”. Tenho trauma, porque minha tia,  Dapaz casada com meu tio João só o chamava assim e ficava andando pela casa e gritando “Bem”, oh “Bemmmmmmmmmmm” e enquanto meu tio não respondia ela não parava de gritar, aquilo fazia meu batimento cardíaco gritar junto e meu coração faltava sair pela boca e pular na dela para ela parar de gritar isso nos ouvidos dos outros. Porque ela não o chamava de Joãozinho e ele a chamava de Dadá, muito mais romântico do que esse negócio de “Bem” que deve ter sido criado por alguém que queria provar que o parceiro fazia muito bem na vida da pessoa e para convencer a todos passou a chamá-lo assim.

Na classe dos apelidos possessivos tem ainda “Minha Vida”. Vida cada um tem a sua. A pessoa fala com tanta posse que parece que ela tem duas vidas dentro de si, que mora uma outra pessoa dentro dela e elas batem papo e se relacionam o tempo todo, tanto que quando uma abre a boca a outra sente o sono. Quem ouve o tempo inteiro a expressão “minha vida” chega uma hora que esquece que existe que se refere ao marido, ele deixa de existir e a mulher começa a parecer uma viúva de vida dupla com marido morto.

Ana Cláudia chama Conrado de marido, deve ser para ele jamais esquecer que já saiu da vida de solteiro e para as amigas saberem que ela é casada e problema das que ainda não casaram, uma psicóloga deve diagnosticar como caso sério de autoafirmação matrimonial. Deve ser daquelas que o único dado preenchido nas redes sociais preenchido é o status casada.

Madame parece legal, meu amigo Anderson chama a mulher dele assim. Não sei como ela se sente, mas eu, só se de vê-lo chamá-la assim, lembrei da propaganda do mordomo que levava o papel higiênico na bandeja para servir a patroa. Esse apelido pode não ser bonito, mas pelo menos da uma sensação de grandeza, deve ser primo primeiro dos possessivos, parece que você é a patroa e que ele está ali para te servir.  

As mulheres parecem ter mais necessidades desses apelidos metidos a românticos, mas que no fundo no fundo são grandes causadores de agressão auricular. Devia ter uma lei em defesa dos conviventes, proibindo a utilização de alguns apelidos e assim, nem que seja de forma indireta deve diminuir os infartos masculinos. Os coitados ouvem tanto alguns apelidos bregas e broxantes que isso aumenta a pressão e contribui para o número de infartantes ser bem mais alto entre homens do que entre as mulheres.


A lei devia decretar que em respeito ao amor auricular, os amantes ficam proibidos de usar apelidos amorosos que não sejam aqueles oriundos da palavra amor: amorzinho, amorzão, amoreco, mô, e qualquer outro que venha desse substantivo e dento das entonações possíveis, afinal somos um país democrático. Sendo punidos com o fim do amor, aqueles que descumprirem a lei supra.