quarta-feira, 12 de setembro de 2018

LARANJA CONCURSEIRA

       Tem coisas que acontecem perto de mim que acho que são propositais para eu escrever textos chatos que ninguém lê ou então são para provar que eu tenho algum problema grave, tipo ver coisas que ninguém mais vê, coisas de outros planetas. São coisas tão esdruxulas que chego a pensar que são criadas pela minha cabeça.
         Fazer prova de seleção por si só já é uma coisa chata e stressante. Mas quando senta ao seu lado uma pessoa que parece que ao invés de ter ido fazer prova parece que foi para comer e fazer barulho, é a treva. Parece que o intuito da pessoa é eliminar os candidatos da sala, porque o barulho de comilança é tão grande que atrapalha a todos.
          A situação toma uma crescente que a raiva passa a crescer dentro do corpo, com a certeza que se você tivesse uma arma atiraria na boca da pessoa para ela parar de comer, mas como você não pode, então tudo que faz é passar a desejar que a pessoa tenha uma dor de barriga de morrer e na próxima prova não levar nem água.
       Eu pensei que nessa prova seria diferente, as pessoas chegariam comedidas, quase sempre só com água, barrinha de cereal e 10 canetas da cor exigida para fazer a prova. Mas, ao meu lado tinha uma mulher que equilibrava na carteira água, maça, barra de cereal, chicletes, documento, balas, canetas e sei lá mais o que, não dava nem para enxergar tudo. Eu mal via espaço para ela por a prova, até pensei em pedir uma caneta emprestada para dar espaço e já que eu, despreparada, só levei 1 caneta e que na hora de assinar meu nome na porta da sala descobri que a caneta não prestava, mas, achei melhor não por em risco a organização da carteira.
       Lá pelas tantas tudo aquilo desabou e ainda tive que ajuda-la a recolher, fiz isso porque minha mãe me diz para ser uma pessoa educada, então ajudei a pegar as coisas, mas confesso que quase dei um chute em umas coisas para afastar tudo isso dela. Porque ou a pessoa faz prova ou come.
       Acho que não passei na prova, mas confesso que a culpa não foi da candidata comilona. Entregando os pontos por não saber algumas respostas entreguei a prova e fui esperar no portão minha amiga terminar prova a dela. Isto com a certeza que pelo menos no teste de autocontrole para não matar alguém que se inscreve em um concurso só para prejudicar o outro, eu passei.
       Mas, o troço mais estranho ainda estava por vir. Um candidato saiu da prova com um saquinho de plástico e umas 4 laranjas dentro. Fiquei boquiaberta. Como alguém leva laranja para uma sala de prova?! Ele não pode ter levado faca para descascar. Será que descascaria como mexerica sujando a prova toda com o sumo da laranja?! Será que era alguma técnica nova de concurseiro? Ou será uma estratégia copiado de um blog para eliminar os concorrentes durante uma prova: descasque e chupe laranjas durante a prova e tire a concentração alheia.
     E se em vez de gomos aquelas laranjas tivessem as respostas das questões? Aquele cara podia pertencer à gangue dos concursos que vendem resultados. Ainda mergulhada no bagaço desta questão, sai uma mulher com um saco de laranjas, um saco enorme, destes que vendem em caminhão de fruta. Quando vi, levei um baita susto, ela devia ser a chefe da quadrilha, eu não conseguia parar de olhar para aquela atitude estranha.
       Aquilo reforçava minha tese da gangue laranja concurseira. Fiquei logo pensando na manchete de jornal: Presa a quadrilha laranjal, acusados de traficarem respostas de concursos dentro de gomos de laranja. Cada gomo continha de 1 a 10 questões respondidas e eram vendidas a preço de banana.
       Outra mulher se aproximou do pacote de laranjas que estava no chão e mostrou algo no celular para a chefe da quadrilha. Acho que era algum tipo de comunicação oficial do fecho final da prova. Classifiquei como uma quadrilha audaciosa porque o carro da polícia estava a uns 500m do local e elas ainda estacam com algumas provas do crime no saco.
Achei um absurdo aquilo tudo, um esquema fraudulento e azedo como tamarindo bem a minha frente, roubando minha chance de fazer um mestrado. Eu devia procurar a polícia porque ali tinha a evidência de um crime, ninguém leva um saco de laranja para fazer uma prova de seleção, a não ser que tenha respostas dentro delas.
     De repente a casa caiu, a mulher tirou uma laranja furou com os dedos para descansar e começou a chupar os gomos. Aí fui eu que azedei, porque agora minha reprovação não era culpa da quadrilha laranjal, mas da minha incompetência.
Não fiquei muito convencida de que aquilo tudo era coisa da minha cabeça, porque é surreal a história de duaso pessoas serem vistas com saquinhos de laranja no dia de uma prova, mas como o elemento material do crime podia ser chupado, me convenci que tem doido para tudo nessa vida e uns piores para tentar passar em prova de seleção.




Luciane Dias



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