Outro dia me senti como um programa de computador desatualizado, destes que só rodam naqueles computadores antiguérrimos.
Estávamos numa roda de mulheres a beira de uma quadra de futsal descansando para o segundo turno da partida quando se estabeleceu um bate-papo em torno do material apropriado para a prática do esporte.
Aqui, preciso fazer uma pausa no assunto para esclarecer que neste grupo que joga uma bolinha duas vezes por semana, tem mulheres de várias idades, a mais nova tem uns 14 anos e a mais velha uns 44 anos, se não afirmo com certeza a idade das jogadoras é porque nunca perguntei, nós nos reunimos exatamente para esquecer detalhes da vida que podem desconstruir a felicidade, então ali o que importa é participar da brincadeira esportiva.
Depois de um ano jogando juntas e acreditando que éramos todas iguais independente de sermos casadas ou solteiras, mocinhas ou idosas “minha casa caiu” e já explico o porquê voltando a contar a história.
Como eu ia dizendo, estávamos em um intervalo do jogo, conversando quando eu e uma colega chamada Ana Cláudia falávamos de uma dor no calcanhar que podia ser ocasionada pelo tênis que usávamos, então eu falava para minha colega que minha dor tinha diminuído depois que troquei meu tênis “ralé” por um com melhor estrutura.
Uma outra personagem do jogo, a Ana Júlia, foi tomada de assalto pela minha frase e com uma cara de espanto aquela moiçola de 14 anos me perguntou o que era uma coisa “ralé”, se era alguma marca.
Daí fui eu que fiquei sem entender, como assim ela não sabia o que era isto! Entre risos de surpresa tentei explicar que “ralé” na verdade é uma referência a camada baixa da sociedade, mas como gíria a gente usava para dizer que algo é de baixa qualidade, é ruim, é fraco, feio... sei lá, nem me lembro ao certo quantos e quais adjetivos usei na hora para tentar explicar para ela o significado da palavra.
Enquanto eu explicava, minha amiga Ana Cláudia dona de um tênis “ralê” caia na gargalhada, eu não sabia se ela ria de mim por usar uma gíria tão ultrapassada ou se da Ana Júlia que não sabia o significava de uma expressão tão simples e que marcou uma geração de adolescentes.
Nesta hora vi que, como a tecnologia, o linguajar também se moderniza colocando em esquecimento algumas programações recebidas em um determinado espaço de tempo. Para testar o quanto meu processador estava desatualizado e até que ponto eu conseguiria rodar meu linguajar nesta era juvenil, perguntei para Ana Júlia se ela conhecia algumas gírias como: filé, cair nas quebradas, dar um rolé, ficar grilado.
Aquilo tudo parecia uma piada, porque os 15 anos de diferença entre Ana Júlia e eu até então não marcava nem um paradigma que me fazia sentir velha, conseguíamos conviver juntas numa boa, mas era bom que eu fizesse uma atualização da minha programação, nada muito grave que afetasse minha auto-estima a ponto de intensificar o uso dos cremes anti rugas. É mais fácil que tudo isto, basta prestar atenção no palavreado atual, se eu conseguir aprender as gírias dos jovens, substituindo-as pelas que aprendi quando eu era adolescente, acho que daria para continuar convivendo sem conflito, mesmo que o computador aqui seja o de 32 anos atrás.
Pombas! Bicho, olha que não usas-te as melhores gírias de todos os tempos. A brotinho ainda precisa conhecer coisa à beça. Esse negócio de falar em gíria, quase código é o maior barato. Eu não acredito que deixamos de ser boas pintas só por termos um linguajá do arco da velha. Sempre achei o demodé atraente. Mas, o jeito mesmo é ir na onda. E, eu vou dar no pé, porque se não fico aqui viajando e você passa a não entender patavinas.
ResponderExcluirÓtimas suas gírias, confesso que quando parei para escrever este texto me deu um branco nas gírias, mas como somos mais ou menos da msm época entendi seu texto perfeitamente,kkk.
ResponderExcluirAbraços