terça-feira, 3 de julho de 2012

ELE É BOM OU MAU ALUNO?!

     No mundo de hoje é difícil saber o que é certo e o que é errado, isto porque pelo dito popular hoje tudo é permitido. Em um parecer, um jurista diria que tudo é permitido, mas nem tudo é lícito. Um evangelizador diria que tudo é permitido, mas nem tudo é cristão. Um médico diria que tudo é permitido, mas nem tudo é saudável, assim para cada situação desencadeia um pensamento acerca do que pode e do que não pode ser correto. Mas, uma coisa é certa, os parâmetros tem se modificado junto com a cultura, a educação, os princípios morais, religiosos e sociais.

     Eu consigo perceber isso de vez em quando na escola que trabalho. Tem sempre aqueles alunos que não fazem os deveres, que vão de roupa curta ou sem uniforme, que querem ficar pendurados no celular durante a aula, que gritam com os colegas e querem resolver tudo nos tapas, que não entregam as atividades, que desafiam os professores amassando as atividades, se negando a fazer os trabalhos e nós como professores quando vemos que mesmo depois de muita conversa não conseguimos fazer com que o aluno entenda que este comportamento não é apropriado dentro da escola, partimos para o último recurso que é chamar o responsável. Mandamos um bilhete e esperamos ansiosos pelo responsável no intuito que este nos ajude a fazer com que esse aluno aprenda algo, que se ele não levar a vida acadêmica a sério, que pelo menos consiga nota para ser aprovado no fim do ano. Por vezes, quando o responsável chega à escola nossa surpresa é muito maior do que aquela que nos ronda, porque o aluno não consegui assimilar depois de 5,6,7 anos na escola as regras que persistem em serem as mesmas ano após ano.

     Na presença do representante do aluno, eu, particularmente, me sinto como uma transgressora das regras pessoais da vida daquela criança/adolescente, me sinto desolada do mundo dela, como se eu estivesse fazendo tudo de errado. Vocês podem não estarem entendendo, mas é isto mesmo, diante do representante eu passo a ser a pessoa desordeira de uma cultura já estabelecida na vida daquela criança, porque se ela já passou 5,6,7 anos na escola, ela passou muito mais na convivência de seus familiares e foram eles que ensinaram o que é certo e o que é errado. Acho que a psicologia diz algo como: são nos primeiros anos que acontece o verdadeiro aprendizado e depois ela só vai assimilando as outras informações, então os conceitos que eu passo como "educadora" para esses alunos podem ser contraditórios ao que eles receberam em suas residências, a prova disto é quando me deparo com a pessoa que vai à escola para tratar dos assuntos pedagógicos do aluno.

     A pessoa que chega quase sempre é a mãe e por algumas vezes se apresenta de um jeito bem típico: short curto, blusa mostrando a barriga, fone de ouvido e celular pendurado no bolso enquanto toca uma destas músicas que não tem propriamente uma letra, é mais algo como tchu tchu tcha, chupando chiclete e falando gíria, diz que foi ali para tratar da advertência recebida pelo filho e que gostaria de ser recebida rápido porque tem mais o que fazer em casa e que se o filho tiver feito algo errado irá apanhar muito quando chegar em casa. Outras vezes, o pai aparece na escola, mas infelizmente algumas vezes está bêbado, chega falando alto e dando tapas nas mesas.

     Diante desta situação, penso duas vezes se devo relatar a vida escolar do aluno, já nem sei se ele está errado ou se eu estou. Rapidamente entendo que o aluno não assimila as regras da escola porque ele vive em ambiente diferente, os exemplos devem falar mais forte do que as regras que eu falo para ele que devem ser seguidas. Em meio a um e outro professor que fala sobre o comportamento do aluno e a mãe também diz algumas coisas, começo a pensar que o menino não é assim tão ruim, que o comportamento dele é um reflexo da educação que recebe todos os dias, que talvez ele tente fazer diferente na escola, mas já está tudo tão intrínseco que ele não se controla. Assim, o meu lado sentimental psico-professora começa a achar que aquele menino é um anjo perante a educação que ele recebe, que ele faz uso a famosa frase "educação a gente trás de berço". É uma situação realmente desoladora, difícil de explicar e de conviver, mas com certeza capaz de me deixar com duplo peso na consciência; não posso deixar o aluno fazer o que ele quer, preciso repassar para ele o mínimo de responsabilidade, de respeito com os demais, de conteúdos, mas também tenho que respeitar a individualidade dele porque ela vem de um meio ambiente que parece estar errado aos olhos dos professores, mas de repente não da comunidade em que ele vive. Tudo aquilo é como um DNA que vai passando de geração em geração, com certeza estes pais passaram por situações semelhantes quando da sua adolescência e isto veio se intensificando pelas interferências de cada época, de cada lugar que moraram, de cada nova família que se formou e que trouxe pensamentos diferentes.

      Depois da mãe ir embora, volto para a sala de aula e entre uma aula e outra me encontro com o aluno que me pergunta o que ficou decidido entre a mãe dele e os professores, dou um tapinha nas costas dele, balanço vagarosamente a cabeça e digo para ele todos os professores conversaram no dia da coordenação sobre o caso, que o encaminharemos para o Serviço de Orientação Educacional porque precisamos rever toda a situação dele, agora a conversa tem outro foco, mas que enquanto este momento não chega, nós podemos nos encaminhar para a quadra e ter nossa aula de Educação Física, porque lá sim todas as regras são iguais independente da localidade, do padrão social, da raça ou do tamanho, as regras do jogo de futebol, de vôlei, de handebol ou de basquete são as mesmas aqui ou na China.


Luciane Dias




3 comentários:

  1. Concordo com tudo que você disse, mas como cristã, fuleira, mas cristã que sou, preciso dizer que temos a obrigação moral de tentar. Não é porque eu conheci apenas o amarelo na minha vida, que eu seja obrigada a usar apenas amarelo. Se me apresentarem outras cores eu terei direito de decisão. É óbvio que há certas decisões que ultrapassam o meu querer, que exigem que sejam quebradas barreiras que nem sempre estamos preparados. Mas, a vida é isso aí. Não dá para cruzar os braços, nem ser paternalista com um aluno que não segue as regras somente porque eu conheço a realidade socio, familiar e econômica dele. Como educadores, somos uma segunda opção, um outro caminho que ele pode seguir ou não. Nosso papel é cativar. Sei que ficamos frustradas quando não alcançamos determinada criança como desejamos, mas a vida é uma sucessão de vitórias e perdas. E, como profissionais, precisamos lidar com isso de forma ainda mais sábia.
    Diante, da minha fala, no entanto, não posso me furtar a citar os alunos que "tem educação de berço", com pais que não somente falam, mas educam pelo exemplo, e que mesmo assim ele opta por um caminho oposto, por diversas questões que vão de influências de amigos encarnados a problemas de ordem espiritual. Mas, acontece. Por isso, não gosto do paternalismo, e creio realmente que cada um é responsável pela escolha que faz na vida. Por isso, falo com meus alunos: a vida pode ser cruel, dura, mas há um motivo para você fazer tudo diferente: SE VER EM UMA SITUAÇÃO MELHOR, VITORIOSO! Se o ganho ou não, já não me cabe, mas minha parte tento fazer. Mostro meus erros, meus acertos. Dou bons e maus exemplos. Mas não abaixo a minha cabeça. A gente faz as coisas na medida que podemos fazer, mas precisamos fazer de forma consciente. A posição profissional que tomamos também é uma escolha que terá consequências profissionais (administrativas) e como educadores que ultrapassam e muito os muros das escolas. Eu faço o que posso, para sair da escola com a sensação que esgotei todas as minhas possibilidades, sem me agredir e sem tomar para mim um fardo que não é meu.... É isso....

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    1. Sim, concordo com vc, n dá p desistir msm de tentar mostrar p ele uma educaçao que nao a de berço. Mas, qdo deparamos com esta situaçao os recursos que utilizamos para aquele aluno tem ser outro, ja que nao podemos contar c a família e n é necessariamente passar a mao na cabeça e ser paternalista, mas o caminho permeia por uma atitude entre professores e ele, o proprio aluno, que deverá encarar a situaçao como se já fosse responsavel por ele msmm!!!

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  2. É isso.... Tento, assim sem recurso mesmo, contando apenas com meus belos olhos e grande carisma que o Senhor Jesus me deu, convencê-lo que ele precisa ser mais forte que um montão de gente e tomar partido da própria vida, fazendo escolhas sem esquecer que para cada uma delas haverá consequências imediatas e de longo prazo...
    "E, assim caminha a humanidade com passo de formiga..." e nosso caso com MUITA VONTADE... e isso faz a diferença!!!!!

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