Tem coisas que acontecem perto de mim que acho que são propositais
para eu escrever textos chatos que ninguém lê ou então são para provar que eu
tenho algum problema grave, tipo ver coisas que ninguém mais vê, coisas de
outros planetas. São coisas tão esdruxulas que chego a pensar que são criadas
pela minha cabeça.
Fazer prova de seleção por si só já é uma coisa chata e
stressante. Mas quando senta ao seu lado uma pessoa que parece que ao invés de
ter ido fazer prova parece que foi para comer e fazer barulho, é a treva.
Parece que o intuito da pessoa é eliminar os candidatos da sala, porque o
barulho de comilança é tão grande que atrapalha a todos.
A situação toma uma crescente que a raiva passa a crescer dentro
do corpo, com a certeza que se você tivesse uma arma atiraria na boca da pessoa
para ela parar de comer, mas como você não pode, então tudo que faz é passar a
desejar que a pessoa tenha uma dor de barriga de morrer e na próxima prova não
levar nem água.
Eu pensei que nessa prova seria diferente, as pessoas chegariam
comedidas, quase sempre só com água, barrinha de cereal e 10 canetas da cor
exigida para fazer a prova. Mas, ao meu lado tinha uma mulher que equilibrava
na carteira água, maça, barra de cereal, chicletes, documento, balas, canetas e
sei lá mais o que, não dava nem para enxergar tudo. Eu mal via espaço para ela
por a prova, até pensei em pedir uma caneta emprestada para dar espaço e já que
eu, despreparada, só levei 1 caneta e que na hora de assinar meu nome na porta
da sala descobri que a caneta não prestava, mas, achei melhor não por em risco
a organização da carteira.
Lá pelas tantas tudo aquilo desabou e ainda tive que ajuda-la a
recolher, fiz isso porque minha mãe me diz para ser uma pessoa educada, então
ajudei a pegar as coisas, mas confesso que quase dei um chute em umas coisas
para afastar tudo isso dela. Porque ou a pessoa faz prova ou come.
Acho que não passei na prova, mas confesso que a culpa não foi da
candidata comilona. Entregando os pontos por não saber algumas respostas entreguei
a prova e fui esperar no portão minha amiga terminar prova a dela. Isto com a
certeza que pelo menos no teste de autocontrole para não matar alguém que se
inscreve em um concurso só para prejudicar o outro, eu passei.
Mas, o troço mais estranho ainda estava por vir. Um candidato saiu
da prova com um saquinho de plástico e umas 4 laranjas dentro. Fiquei
boquiaberta. Como alguém leva laranja para uma sala de prova?! Ele não pode ter
levado faca para descascar. Será que descascaria como mexerica sujando a prova
toda com o sumo da laranja?! Será que era alguma técnica nova de concurseiro?
Ou será uma estratégia copiado de um blog para eliminar os concorrentes durante
uma prova: descasque e chupe laranjas durante a prova e tire a concentração
alheia.
E se em vez de gomos aquelas laranjas tivessem as respostas das
questões? Aquele cara podia pertencer à gangue dos concursos que vendem
resultados. Ainda mergulhada no bagaço desta questão, sai uma mulher com um
saco de laranjas, um saco enorme, destes que vendem em caminhão de fruta.
Quando vi, levei um baita susto, ela devia ser a chefe da quadrilha, eu não
conseguia parar de olhar para aquela atitude estranha.
Aquilo reforçava minha tese da gangue laranja concurseira. Fiquei
logo pensando na manchete de jornal: Presa a quadrilha laranjal, acusados de
traficarem respostas de concursos dentro de gomos de laranja. Cada gomo
continha de 1 a 10 questões respondidas e eram vendidas a preço de banana.
Outra mulher se aproximou do pacote de laranjas que estava no chão
e mostrou algo no celular para a chefe da quadrilha. Acho que era algum tipo de
comunicação oficial do fecho final da prova. Classifiquei como uma quadrilha
audaciosa porque o carro da polícia estava a uns 500m do local e elas ainda
estacam com algumas provas do crime no saco.
Achei um absurdo aquilo tudo, um esquema fraudulento e azedo como
tamarindo bem a minha frente, roubando minha chance de fazer um mestrado. Eu
devia procurar a polícia porque ali tinha a evidência de um crime, ninguém leva
um saco de laranja para fazer uma prova de seleção, a não ser que tenha
respostas dentro delas.
De repente a casa caiu, a mulher tirou uma laranja furou com os
dedos para descansar e começou a chupar os gomos. Aí fui eu que azedei, porque
agora minha reprovação não era culpa da quadrilha laranjal, mas da minha
incompetência.
Não fiquei muito convencida de que aquilo tudo era coisa da minha
cabeça, porque é surreal a história de duaso pessoas serem vistas com saquinhos
de laranja no dia de uma prova, mas como o elemento material do crime podia ser
chupado, me convenci que tem doido para tudo nessa vida e uns piores para
tentar passar em prova de seleção.
Luciane Dias