Os direitos de proteção ao meio ambiente e aos animais invadiram todos os setores da sociedade, alguns que a gente nem imagina e se a gente não se atualiza acaba passando por situações vexatórias. Foi o que aconteceu comigo.
Estava com minha sobrinha de dois anos e meio brincando, quando ela me deu as mãozinhas e começou a dizer algo como 'o gato comeu, miau'. Eu, como uma supertia, identifiquei logo a brincadeira que ela queria, então, de mãos dadas comecei a cantar para ela a música que já existe há milhões de anos: "Atirei o pau no gato tô tô, mas o gato tô tô, não morreu reu reu; dona Chica cá cá, admirou-se se, do berro, do berro que o gato deu, miau !!!"
Meu sobrinho mais velho ficou por alguns segundos olhando aquela cena quase que embasbacado, cheguei a me sentir meio ridícula; estaria ele achando patética a cena de uma velha brincando de roda no meio da rua? Mas, de supetão, ele saiu do transe e veio correndo na minha direção e dizendo que a música não podia ser daquela forma. Então ele deu as mãos para mim e minha sobrinha e começou a cantar a música: "Não atire o pau no gato (to-to); porque isso (sso-sso); não se faz (faz-faz); o gatinho (nho-nho); é nosso amigo (go); não devemos, não devemos; maltratar os animais; miau!!!" Eu não estava acreditando naquilo e mesmo com a cara no chão pela vergonha pedi para que ele cantasse novamente para eu aprender.
Gente, como assim? Mudaram a música, mas porque motivo será que fizeram isso?! Isso pode causar frustrações às minhas lembranças de criança e excluir a oportunidade de me enturmar com as crianças da presente geração!!! E agora? Quem protegerá minhas lembranças sem que elas se tornem um crime, quem protegerá o direito de pensar que uma criança é apenas uma criança e não um homicida em potencial, porque ouviu uma cantiga de roda?! Gente estão acabando com a inocência do mundo!!! Estão transformando o que é simples em resultados vindos da cabeça dos adultos!!!
Mesmo meio indignada, resolvi fazer uma investigação rápida sobre o assunto para descobrir o motivo e constatei que a mudança realmente foi devido a letra da música, que teoricamente, incentivava a violência contra animais. Fiquei pensando que tipo de investigação fizeram para chegar a esta conclusão. Será que perdi a reportagem de algum matador em série que diz que começou carreira atirando o pau no gato, ou mesmo que algum matador de bichos tomou gosto depois que aprendeu na escola esta música e resolveu experimentar na vida real? Isso parece uma piada: atirar o pau no gato não quer dizer que acertou, que machucou o gato ou algo parecido. Mudar a música não diminuirá a violência no mundo, nem mesmo aquela contra os animais. Esta mudança não protege as crianças que são maltratadas a todo instante pelos pais, não diminui os abusos sexuais. Também não obriga o estado a trocar esta música por uma educação de qualidade, em que a criança tenha realmente a oportunidade de ter um bom futuro tanto na vida pessoal como na social, com meio ambiente preservado sem que desmatem todos os espaços verdes para construírem arranha-céus.
Agora vou ficar esperando o momento em que vão mudar a música "Pai Abraão", dizendo que ela incentiva a procriação desordenada, o excesso de filhos em uma família e que é por isso que os homens de hoje tem filhos com mulheres diferentes. Só não sei se essa explicação parece lógica para este povo que muda a história da infância alheia achando que uma simples música é capaz de afetar o caráter de uma criança em formação.
Luciane Dias
Lu, se você desse aula em escola classe já teria se esbabacado com essa coisa de "não atirei o pau no gato"... Mas, acontece que não é tão trágico, assim... Alguém, fez a paródia e outros alguéns fizeram o drama. Juro, que não gostei dessa versão a primeira vez que ouvi, e nem gostei quando me obrigaram a trabalhar essa música em sala de aula, mas... o resultado foi bom. Tudo depende do direcionamento que você faz com o trabalho, e eu gostei do resultado do que eu fiz, não me senti agredida, nem minhas lembranças de infância desrespeitadas. No entanto, concordo plenamente com sua ponderação.... Mudar a música, não vai mudar as atitudes, nem as ações governamentais. E, ler o seu texto hoje foi bem conveniente para a minha indignação, porque hoje li no face que os internos da antiga FEBEM terão direito a visitação íntima... "não devemos maltratar os animais", mas devemos super proteger humanos que fazem escolhas erradas, sem dá-lhes a oportunidade real de fazer escolhas melhores...
ResponderExcluirEu sou a favor de um sistema prisional inteligente, que resgate a auto estima e o valor social do indivíduo, fazendo perceber que a vida segue um sistema simples onde a gente colhe o que planta... Se não fosse tão cômodo passar temporadas sendo alimentados, assegurados, protegidos e ainda recebendo auxílio reclusão, teríamos menos candidatos a bandido internados na Fundação Casa... Eu estou puta da vida!!!!
Os valores estão mudando.. tudo que um dia foi bom, hoje já não serve, é velho, é preconceituoso, etc e tal.. mas a sociedade esquece que o presente foi construído sobre referencias do passado... por mais que achemos que algo tem que mudar, não temos que desmerecer o que passou, pois naquele momento era importante..eu tbm tenho boas lembranças da dona chica, apesar de não conhece-la kkkkk Boa reflexão Luciana, Parabéns!
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